Xi Jinping, o “Imperador” como é conhecido em surdina por milhões de chineses desde que na última reunião da Assembleia Popular, a Constituição foi alterada para permitir mudar duas coisas que o grande reformador Deng Xiaoping instituiu: a presidência por apenas dois mandatos que se tornou sem limite e a idade máxima dos dirigentes do Partido Comunista Chinês e Estado que era de 68 anos.
Com um único voto contra e três abstenções, Xi Jinping viu concretizado o seu desejo de ser presidente vitalício, como dizem, mas com dificuldade em criar uma dinastia, dado ter uma só filha de 26 anos que é muito vista em missões de auxílio a sinistros e estudou na Universidade de Harward no EUA, sendo também uma notável cantora.
Com 65 anos de idade, o “Imperador” espera estar no poder durante muitos anos e faz uma campanha pessoal televisiva, aparecendo nas aldeias com um vasto programa de luta contra a pobreza. Dizem os seus apologistas que já terá tirado da pobreza extrema cerca de 90 milhões de chineses, o que não é muito para um país de 1.400 milhões, mas muita gente saiu da tradicional miséria rural para as grandes cidades industriais desde as reformas de Deng Xiaoping iniciadas em 1978 com a abertura ao mercado e a instalação de milhares de fábricas multinacionais que aí procuravam mão de obra barata. Todas as fábricas, bancos, empresas comerciais, etc. são dirigidas, como em toda a parte, por uma burguesia de quadros que na China é cada vez mais vasta e tem poucas relações com o PCC, dado que Xi e outros dirigentes não querem engrossar mais o partido por terem mais medo dos camaradas do que das classes operárias, camponesas e burguesas.
Xi Ping é filho de Xi Zongshu que foi companheiro de Mao na longa Marcha e chefe do departamento de propaganda política do Partido até ser vítima de uma purga e preso em 1963 na sequência do falhanço do “grande salto em frente”, enquanto o jovem filho de um pai proscrito teve de ir para o campo trabalhar e deve a sua vida ao facto de Mao ter tido sempre medo do seu partido, mesmo quando toda a gente empunhava o seu livrinho vermelho, além de ser mais um intelectual que um grande administrador e depender de Deng que esteve banido durante algum tempo e de Zhou Enlai que nunca deixou o cargo de primeiro ministro, apesar de não se dar bem com Mao.
O PCC tem hoje e tinha antes também mais de 90 milhões de militantes, pelo que um líder nunca está muito à vontade e Mao percebeu que nunca podia imitar Estaline que mandou matar todos os dirigentes que julgava que estavam contra ou podiam vir a estar contra ele, acabando por ser o único dirigente da Revolução de Outubro a morrer na cama.
É curioso que a célebre escritora Jung Chang - filha de um Secretário-Geral da Educação de uma província com 100 milhões de habitantes e dirigente do PCC - escreve no seu livro “Cisnes Selvagens” que quando ainda muito jovem foi banida na Revolução Cultural para ir trabalhar no campo com outros colegas, os pobres camponeses analfabetas do interior da China tratavam esses “criminosos traidores” com grande reverência porque viam neles pessoas de uma espécie de nobreza que a qualquer momento poderiam voltar à cidade e, portanto, ao poder. Efetivamente, aos 22 anos de idade, Xi Jinping é autorizado a inscrever-se no Partido e regressa a Beijing para estudar na Universidade onde se formou em engenharia.
Quando dos acontecimentos da Praça de Tiananmen que tiveram como origem uma “revolta” dos estudantes sem oposição do secretário-geral do PCC, Hu Yaobang, o pai de Xi Jinping manteve a lealdade e amizade a Hu que morreu inexplicavelmente no ano seguinte.
Hu Yaobang que era o então secretário-geral do Partido, defensor de grandes reformas, cuja morte natural ou provocada resultou de ter perdoado os acontecimentos, mas aos companheiros nada aconteceu e assim Xi Jinping continuou a sua carreira no Partido e administração da China, passando de autarca de uma cidade para governador de várias províncias em sucessão até chegar a líder de Xangai e membro do secretariado do PCC. Em 2008, Xi Jinping torna-se vice-presidente da China que era o cargo de preparação para ser o sucessor de Hu Jintao, sendo depois “eleito” pelo Congresso e Assembleia Popular presidente para um primeiro mandato.
Hoje, muita gente “anónima” presta homenagem ao proscrito e talvez assassinado Hu Yaobang por verem Xi Jinping nas cerimónias comemorativas do 90º aniversário do nascimento daquele ex-secretário-geral do PCC que foram vistas nas televisões. Agora colocam flores junto à ex-casa de Hu e um jornal de Xangai chegou a escrever que Hu foi o “engenheiro” das grandes reformas porque passou a China.
Xi Jinping diz que vem assinar 19 tratados com Portugal e já afirmou que Lisboa é o porto de continuação da sua rota da seda com passagem para a via marítima, já que o seu cinto “Belt and road” não pode passar o imenso rio que é o Atlântico com os seus 5 mil quilómetros até Nova Iorque.
Parece que Xi está interessado no porto do Barreiro ou na aquisição da parte concessionada à autoridade do Porto de Singapura no porto de Sines.
O “imperador” sabe que ninguém gosta dele na China nem do seu partido e não é por ser má pessoa. É que o poder dos partidos políticos tem sempre um prazo de duração que na China foi ultrapassado. Mas todos têm medo, o que também é perigoso para os dirigentes, pelo que Xi quer cimentar o seu poder com um enorme progresso interno na base de autoestradas, caminhos de ferro, imensos bairros para a burguesia e operariado e renovação das aldeias de casas pobres. Acredita que com os meios de transporte que não havia entre a China rural do interior e a China costeira e desenvolvida, a população rural vai ver o seu nível de vida aumentado. Só que tudo o que faça só tem sentido se aumentar os salários dos trabalhadores e dos quadros burgueses. Sem isso, para nada lhes servem estradas, caminhos de ferro e aviões.
O imenso projeto da “rota da seda” ou “belt and road”, “cinto e estrada” é considerado por muitos especialistas ocidentais como um meio para convencer a novel burguesia chinesa que vai ser senhora do Mundo. Claro, Xi Jinping não acredita, mas vai fingindo e até pode acontecer isso na medida em que a Europa com a Alemanha não quer saber do Mundo e o Trump não tem projetos imperialistas.
Mas, é curioso ver os vídeos de propaganda das visitas de Xi às aldeias pobres. Ele é recebido por gente muito idosa e fala em terem iniciativa para prosperarem quando aparentemente querem apenas uma reforma razoável que a cooperativa social local não é capaz de dar. A política de filho único provocou um envelhecimento da população rural e os poucos jovens foram para as grandes cidades trabalharem nas fábricas de automóveis, construção civil e na imensa indústria informática.
Xi fala muito em reformas, mas nunca disse uma palavra sobre reformas políticas no sentido das económicas.
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