Domingo, 4 de Junho de 2017

O verdadeiro crime é viver demasiado”

Esta frase do grande pensador e escritor George Steiner deixou-me estonteado, apesar dele com os seus 89 anos se considerar também um “criminoso”. Mas, a ideia não é de um autor, mas sim de toda uma civilização europeia.

Steiner, uma espécie de sobrevivente judeu do holocausto, parece vir dizer que nós, os europeus, romenos ou portugueses, britânicos, franceses, alemães ou gregos, a partir de uma certa idade somos uns “judeus” a merecer algum forno crematório, até por não haver lugares vagos nos cemitérios.

Na entrevista que Steiner deu à redatora do Expresso Revista Luciana Leiderfarb afirma que “somos convidados nesta terra”, pelo que pergunto se devemos sair da “festa” que é a vida antes de tempo?

Claro, Steiner confessa que as “ciências (exatas) não conhecem a hipocrisia” pois “há o certo ou o errado e quem faz batota é obrigado a sair do jogo. Pelo contrário, as chamadas ciências sociais fazem “bluff” a todo o tempo, estão cheias de mentira, de conversa FIADA” e esta de viver demasiado é um delas para uso dos monstros humanos que apelam todos os dias a reformas e escrevem muito no Expresso. Reformas para esses nazis do pensamento é acabar com os reformados, seja de que maneira for.

Steiner fala no século passado como obscuro da maior barbaridade e parece indicar que este pode ser pior se os Schaeubles vencerem.

É difícil entender George Steiner em termos políticos e atuais sem ter lido um livrinho dele intitulado em alemão que foi na língua que li: “Warum denken traurig macht” (Porque razão pensar entristece).

Após a leitura, qualquer um torna-se noutra pessoa a pensar, pensar e pensar o pensamento porque George Steiner escreve como um provocador algo sedutor que impede que o leitor abandone o livro antes de ler todas as suas 77 páginas.

Steiner fala na inquietante “liberdade de pensamento” que a nada conduz e não dá resposta ao que é a morte e eu diria a vida também e o próprio o pensamento, nem se há ou não um Deus. A ciência exata também não respostas finais, mas desde Sócrates que sabemos nada sabemos.

O pensamento livre tornou-se para Steiner tão lúgubre que nos leva a todos a um imenso recuo para as toscas simplicidades dos fundamentalismos, sejam islâmicos ou batistas nalguns estados americanos e até na Europa. Sentimos que há um banho ácido do pensamento e é precisamente aquele que diz, mais ou menos a sério que é crime viver demasiado. Sim estraga as finanças do Estado e perturba o futuro dos netos e bisnetos. Claro, Steiner é genial, mas com a sua idade parece que não conheceu esta maravilhosa máquina que é o computador, a Net, máquina que ajuda a pensar e conhecer o Mundo para quem queira.

Steiner não é contra a liberdade de pensamento, pensa é que os fundamentalismos surgem como reação ao pensamento e são o desejo de policiar o pensamento, enquadrá-lo numa banda estreita que já não se compadece com a liberdade de pensar.

O Pensador não acredita no futuro da civilização europeia que pode soçobrar com os fundamentalismos que não são só dos religiosos. Assim, Steiner não diz, mas Schaeuble e Bruxelas são fundamentalistas e uma forma de nazismo que por não se preocupar com judeus não deixa de ser muito pior.

Na verdade, foi recentemente descoberto que o pensamento resulta de um pequeno erro do ASDN de uma nosso antepassado de há 500 mil ou 5 milhões de anos atrás.

No gene AHGAP11B do cromossoma 15 um erro de transcrição transformou um nucleótido C (citosina) em G (guanina), originando um novo ARN (ácido ribonucleico) que passou a produzir uma nova proteína, exprimida por células especializadas da zona ventricular do cérebro que produziram um estado neuronal intermédio.

As células intermédias dividiram-se em novos neurónios que emigraram para a placa cortical para formar o nosso neo-córtex cheio de circunvalações onde se forma esta coisa estranha que é o pensamento, a não confundir com inteligência, já que os animais são todos portadores de diversas formas de inteligência que permite a sua sobrevivência. E pode ser-se inteligente sem ser grande pensador ou, mesmo, sem pensar em seja no que for.

 

publicado por DD às 23:29
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Sexta-feira, 2 de Junho de 2017

Dieter Dellinger Comenta: RETROCESSO

 

Se eu quisesse dar um nome à época em que vivemos, eu diria RETROCESSO.

Para onde quer que me vire, só vejo o andar para trás e os avanços são apenas a continuação de uma passado muito recente de progresso em que as empresas da informática, automóvel, aviação, etc. não podem parar sem falirem de imediato com consequências graves para os seus acionistas e também para os trabalhadores, mas isso não interessa aos detentores dos poderes diversos.

Hoje, vimos Trump deitar a deterioração climática para o caixotes de lixo. Antes, vimos um Schaeuble adorar a austeridade como o equivalente ao retrocesso de Trump e querer dar cabo de um projeto de progresso europeu que já conduziu ao Brexit e alargou a miséria em toda Europa.

Putin instala-se na Rússia como líder de um modelo de capitalismo oligárquico que reúne o que há de pior no capitalismo como a direção férrea de um Estado que não sabe o que é progresso social e moral.

Na China, vigora essa coisa esquisita e inconsequente, o comunismo-capitalista ou vice-versa.

No Oriente, das religiões nascem bandos de assassinos nunca vistas nos últimos séculos e até na Índia o modelo de governação hinduísta de Mody é um andar para trás, mesmo que a pequeníssima percentagem de informáticos com as suas indústrias de software não tenham desaparecido.

As democracias são postas em causa por juízes ineptos ou interesses capitalistas espúrios.

Os grandes poderes resolveram meter a marcha atrás. O Homo Sapiens não parece capaz de se entender com o progresso.

 

publicado por DD às 22:16
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