Poucas pessoas sabem que houve um grande jogador de futebol que ganhou o prémio Nobel, não como guarda-redes do Racing de Argel primeiro e depois do Racing de Paris , mas como escritor e pensador, tendo mesmo sido com 44 anos de idade um dos mais jovens laureados com o prémio do inventor da Dinamite.
O pensador do absurdo recebeu o Nobel para compensar o absurdo de alguém que fez fortuna com a invenção do explosivo que serviu para tantas guerras. Não era arrogante, nem pretensioso e disse acerca do Prémio Nobel: “há pessoas que mereciam mais que eu o prémio, mas naquele ano, a Academia Sueca queria dar o prémio a um francês e mostrar que também uma cara ainda jovem pode ser premiada”; recebeu o prémio aos 44 anos de idade.
Albert Camus nasceu há 100 anos nos arredores de Argel nos bairros pobres dos franceses argelinos, filho de uma espanhola analfabeta e de pai operário e também homem de poucas letras. Aos 15/16 anos começou a jogar futebol numa época que não se pagavam fortunas pelos jogadores. Camus era bom em todas as posições, mas faltava-lhe o dinheiro para comprar sapatos de futebolista pelo que escolheu ser guarda-redes, a posição em que os sapatos mais duravam. Na altura foi muito aplaudido como jogador, mas para a eternidade ficou famoso pela sua literatura e pelo pensamento filosófico em “O Mito de Sísifo”. Acerca do futebol ele disse um dia: “como guarda-redes aprendi aquilo que também acontece na vida, a bola aparece sempre do lado que a gente julga que nunca virá”.
Li três livros dele, “O Estrangeiro”, “A Peste” e “O Mito de Sísifo”. A suas novela “O Estrangeiro” impressionou-me muito; não tanto pela história em si, mas pela sua escrita que transmite ao leitor uma estranha sensação de separação do Mundo e dos acontecimentos.
O estrangeiro não é aqui alguém que vem de fora, mas sim um empregado de despachante alfandegário que nada tem a ver com tudo o que o rodeia e mesmo consigo mesmo e não por estar na Argélia ou noutro local qualquer, mas porque é assim mesmo. Um estrangeiro de si mesmo, da mãe, da namorada, dos amigos, etc. É curioso que um jogador de futebol se sinta assim.
O livro nada nos diz sobre o futebol e aparentemente alguém com capacidade para várias coisas não deveria ser tão estranho a si mesmo e aos outros, mas era de facto.
Em “A Peste” há também uma separação, mas da cidade colocada em quarentena e todos os seus habitantes estão cortados do resto do Mundo numa espécie de absurdo. E foi ao absurdo que ele dedicou a sua principal obra filosófica “O Mito de Sísifo”, um ensaio sobre o absurdo de ser homem e viver, chegando a pensar que o suicídio é a única solução para o absurdo, mas depois analisa o conceito mais detalhadamente e vai a Dostoiewski e explora o suicídio filosófico que entendeu em “Diário de um Escritor”, “O Idiota” e “Os Irmãos Karamazov”, mas nos seus ensaios revela-nos muito de Heidegger, Husserl, Kierkegaard e outros filósofos.
Chamaram-lhe existencialista, algo que ele sempre negou como a sua ligação filosófica e literária a Jean Paul Sartre, apesar de haver paralelos e ligações, transmitidas pelo espírito de uma época saída de uma guerra que foi o absurdo dos absurdos em que, aparentemente, a existência é a própria responsável de todo o absurdo. Assim, Camus chega a três consequências da plena aceitação do absurdo: a revolta, a liberdade e a paixão. A revolta ou a constatação de que a vida é absurda, sem sentido; a liberdade inerente à nossa condição humana (estamos sós e escolhemos) e a paixão, já que não se vive a vida de outro modo.
Morreu de uma forma absurda num acidente de automóvel aos 46 anos de idade; morreu em consequência de um dos absurdos da nossa civilização, o automóvel, visto de um ponto de vista filosófico. Um físico diria que Camus foi o escritor e pensador do negro, a cor que fisicamente não é cor, é apenas nada, mas que permitiu descobrir a energia quântica e elaborar a física do nada ou, talvez, do quase nada que somos com o Universos ou os Multiversos. Sobre Camus podiam ser escritos muitos livros, mas num Facebook, este texto já é demasiado grande.
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