A Tininha Silvestre resolveu dar uma festa de anos na sua nova mansão no Largo do Mastro e convidou toda a “socialite” de Lisboa e Odivelas.
Não faltou ninguém, apesar das dificuldades que todos atravessam. Sim, há muito que ninguém ia a uma festa e, apesar de não terem nada para porem, lá foram ao Largo do Mastro para onde a Tininha se mudou.
A Lili Caneças foi das primeiras a chegar. Veio de autocarro até ao Saldanha e depois apanhou um táxi para não chegar ao largo a pé e os outras fizeram quase o mesmo, exceto o Castelo Branco que exibia um Mercedes branco de 1973 adquirido no OLX para fingir que foi muito rico. Agora é finérrimo mostrar que o Gaspar levou toda a riqueza. Quem não ficou teso é de desconfiar, anda metido com o Relvas e não é convidado para festas.
Lili entrou no número 43 e subiu umas escadinhas íngremes e muito apertadas até à sobreloja e pensou “isto parece uma entrada para cocheira”.
À porta, a Tininha ia recebendo os convidados vestida com um vestido esburacado pela traça e ostentando um colar de bolas ping pong a fingir de pérola gigantes. Com muitos beijos recebeu a Lili que vinha com um vestido meio cortado e com um rasgão do lado da direita que mostrava a ponta da teta ao nível do umbigo.
A Lili perguntou-lhe: então é esta a tua nova casa?
Sim querida, tive que vender a mansão do Estoril porque o Gaspar dizia que aquilo valia um milhão de euros e imagina lá isto. Por causa de um galinheiro que mandei fazer para pôr lá galinhas da Índia, o IMI queria cobrar-me mais de 20 mil euros de impostos atrasados e eu já não tenho esse dinheiro desde que o Passos se apoderou de tudo.
Olha, vendi a um angolano, o general Tumbapumba, tão gordo como podre de rico. Se o visses o gajo com os dedos cobertos de cachuchos de ouro gigantescos que comprou às peixeiras de Praça da Ribeira que os usavam nos velhos tempos do Sócrates, aí que saudades! Desculpa dizer gajo, mas agora temos de adaptar a linguagem aos novos costumes.
O Castelo Branco veio logo a seguir com a Betty. Vinha com uma saia de palha africana sobre umas velhas calças coçadas de caqui e umas pinturas tribais a fingir de roupa. A Betty vinha empolgante com uma serapilheira até aos pés e muitas jóias de plásticos.
A Mafaldinha da Gama chegou e agarrou-se à Tininha quase a chorar a dizer-lhe, não repares no meu vestido esburaco pela traça. Tive de vender tudo no OLX para pagar os impostos, mas estou contente, há uma festa e qualquer coisa para comer e beber, não é verdade.
Há sim, respondeu-lhe a Tininha. Também vendi tudo na OLX e fiquei com pequeno um baú cheio de moedas de 5 e 10 cêntimos.
O Oliveira também apareceu com umas calças de bombazina muito largas para esconder as pulseiras eletrónicas. Todas disseram baixinho: “olha o malandro, tem a massa toda nas Virgens e aqui anda a fingir de pobre.
Nas Virgens, perguntou espantada a Lili, como é que se põe dinheiro nas Virgens. Ó filha, não é numa virgem, é nas Ilhas Virgens onde há bancos que recebem a massa dos amigos do Cavaco. Bem, então já não são virgens, mas isso hoje já não interessa.
A Tininha resolveu mostrar-se muito de esquerda e convidou o António Costa que tem o gabinete um pouco abaixo do Largo do Mastro no Intendente.
Quando chegou, a Tininha abraçou-o e beijou, dizendo-lhe “meu querido António, como foram bons os tempos do Sócrates, mas como é te dás no Intendente, aquilo não está cheio delas”.
Não respondeu-lhe o António, elas estão a ir para o Estoril e Cascais. Vão ter com os angolanos cheios de massa e dão uma fortuna por uma queca. Aqui já não há freguesia. Estes gajos do Bangla Desh que estão no Martim Moniz têm de pagar as prestações dos casamentos que fizeram com portuguesas que nunca lhes puseram a vista em cima quanto mais o coiso.
Veio tudo. A Mafaldinha Sotto Mayor trazia uns cravos presos no cabelo. Cravos? Que mau gosto, disse-lhe a Lili. Olha, filha foi o que arranquei aqui ao pé no Campo de Santana.
Bem, está tudo, vou pôr música. A Tininha deu corda ao velho gramofone comprado na Feira da Ladra para aproveitar a coleção de viniles do avô e começou tudo a dançar uns tangos arranhados pela agulha gasta do “His Master Voice” importado nos anos vinte.
Depois disse, champanhe já se acabou, mas há água da torneira engarrafada em velhas garrafas de plástico.
E se quiserem comer, temos mesmo à porta a carrinha da “Legião de Boa Vontade”. As meninas fornecem umas sanduíches ótimas com queijo e mortadela.
Estava tudo esfomeado e desceram as escadinhas a correr e foram para a bicha. Logo à frente estava o advogado Dr. Ferreira da Silva de pijama envolvido num grosso sobretudo que comprou em Moscovo nos tempos de Brejenev quando o PCP arranjava convites para ir ver as maravilhas do marxismo-leninismo.
A Tininha ainda o convidou a ir à festa, mas ele disse, “querida estou de pijama e com a minha idade já não posso fazer nada”.
As que estavam na frente da bicha das sanduíches meteram-nas debaixo das saias e foram para trás para trazerem mais sanduíches e uns copinhos de sumo de fruta.
Com aquela fartura de comida, a festa decorreu animada até de madrugada. Ninguém se cansou. E viva os novos tempos, gritaram todas e todos, saudando com os copinhos de plástico com sumo de laranja.
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