Na antiga Escola Alemã, ali para os lados do Campo dos Mártires da Pátria, ou mais propriamente dito, na Rua do Passadiço, o “Viriato” alemão ainda era ensinado nas aulas de história como sendo Hermann, o fundador da Alemanha ou da união das tribos germânicas.
O professor de história, um tal Engelmann, ainda ensinava de acordo com os manuais datados do nazismo há pouco tempo desaparecido e, como tal, Hermann era o herói alemânico, o ideal do germanismo, o pai fundador da Pátria que na batalha de Varus ou da Floresta de Teutenburg derrotou três legiões romanas mais umas tropas auxiliares sob o comando do romano Varus e terá criado para os alemães aquilo que para os portugueses foi a lusitanidade. O governo de Adenauer ainda não tinha desmistificado a história alemã que só o foi verdadeiramente com o SPD de Willi Brandt, mas nessa altura eu já era mais que adulto.
Foi há cerca de dois mil anos, uns 9 após Cristo, que se desenrolou a célebre batalha da Floresta de Teutenburg (também conhecida por Floresta Negra) em que o líder Arminius do povo tribal dos “Cherusker”, diz-se querusquer em alemão e queruscos em português, juntou várias outras tribos com nomes ainda mais exóticos oriundos das línguas germânicas antigas como os Brukterern (Bructérios), Usipetern (Usipitérios), Chatten (Catos), Chattuariern (Catuários), Tubanten (Tubantos), Angrivariern (Angrivários), Mattiakern (Matiácaros) e Landern (Landos). Enfim, não são nomes de espécies zoológicas segundo a classificação de Lineus, mas parecem e são as tribos dos então bárbaros germânicos coligadas sob o comando de Arminiu ou Armínio. Para alguns historiadores os Queruscos eram antes os Heruscos (Herusquer), vindo o nome de veado, em alemão Hirsch. O animal muito venerado pelas tribos germânicas que, tal como os Vikings, adoravam imponentes cornaduras.
Sucede que o herói germânico nunca se chamou Hermann, mas sim Arminius, um nome romano, pois era cidadão romano ao serviço do Império com as forças tribais dos tais queruscos de cujo chefe Sigimer era filho. Hermann foi o nome inventado por Martinho Lutero que traduziu a bíblia para uma língua alemã de sínteses a que se deu o nome de “Hochdeutsch”, (Alto Alemão), e que tendeu a germanizar toda a história germânica.
Na verdade, no meu tempo de escola, o herói Hermann não tinha sido ainda desnazificado, nem desnacionalizado ou despolitizado, continuando a ser o herói reproduzido numa gigantesca estátua de bronze de 56 metros de altura na Floresta Negra a empunhar uma espada ameaçadora na direcção de fronteira com a França. A estátua foi construída em 1875 com os dinheiros a que os franceses foram obrigados a pagar como reparação de guerra por terem sido invadidos e derrotados pela Prússia aliada aos Estados do Norte da Alemanha, a partir da qual foi fundada a Alemanha como potência unida. O ouro francês não serviu só para a estátua do herói, mas também para financiar indústrias metalúrgicas de guerra com as quais a Alemanha se armou para duas guerras em que foi devastadoramente derrotada. Claro, os franceses foram buscar os necessários dinheiros a outros povos mais fracos como os marroquinos, argelinos, tunisinos, senegalenses, malgaxes, cambodjanos, vientnamitas e laocianos, além das populações de muitas ilhas das Caraíbas, Índico e Pacífico.
Lutero arranjou o nome a partir de “herr mann”, senhor homem, inspirado em termos em latim para chefe de guerra, “dux bellicus”, ou coisa semelhante. A realidade é que o herói nunca foi Hermann, mas simplesmente o senhor Armínio. Também nunca se conheceu uma estátua ou baixo-relevo que tenha reproduzido o tal de Armínio, pelo que os alemães pintavam-no sempre como um gigante teutónico louro de olhos azuis rodeado por umas belas matronas igualmente gigantescas e louras capazes de reproduzir muitos outros germânicos destemidos para alimentar o expansionismo alemão iniciado com as guerras da Prússia.
O pequeno homem do bigode meio aparado que se intitulou “condutor” da Alemanha a partir de 1933 fez de Hermann uma espécie de deus germânico que nada poderia ter a ver com os judeus, apesar de ser cada vez mais evidente que o “bigodes” teria sido mais judeu que germânico, mas tanto faz, também o Hermann ou Armínio lutou contra os romanos e a favor do romanos, acabando morto pelos seus irmãos tribais em 2021 e o “Führer”, condutor de carroças ou da Alemanha, podia ser descendente seja lá de quem for como acontece a todos nós. Sabemos mais ou menos quem são os nossos avós e bisavós, mas mais para trás pouco ou nada sabemos.
Armínio e o seu povo tribal tinha muito do Viriato e do Sertório, tanto combateram os romanos como os serviram. Fundamentalmente, os “queruscos” habitaram com outras tribos germânicas as planícies que se estendiam desde o Vistula na Polónia de hoje ao Reno e encontraram nas florestas do Sul da Alemanha o seu grande abrigo e a possibilidade de combaterem os romanos numa guerra de guerrilha e de grandes batalhas.
O governador romano daquela zona, Publius Quinctilius Varus, utilizava as forças do Armínio e confiava no seu compatriota de adopção, pelo que não notou que Armínio desejoso de liderar todas as tribos fronteiriças juntou umas tantas e levou Varus a deslocar-se para a floresta a fim de derrotar de vez os incómodos germânicos. Varus contavam com o apoio do Armínio, mas, em vez disso, caiu numa cilada que levou à morte de 15 mil romanos. O Quinctilius Varus suicidou-se para não ser trespassado pelas espadas ou lanças germânicas com a técnica romana. Armínio aprendeu a arte da guerra romana quando lutou contra os germanos ao serviço do Império.
Tal como foi dito pelos romanos acerca dos lusitanos, não governam nem se deixam governar, podia Tácito ter escrito o mesmo acerca dos germânicos. Afinal, os povos são todos iguais, a geografia é que muda alguma coisa a dados momentos.
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