Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2019

O Cristo Apunhalado

 

 

 

 

 

       Don Pepe de Ortiz passava por ser o melhor escultor de Cristos de Sevilha depois de ser considerado um grande obreiro de retábulos. As muitas igrejas e conventos encomendavam-lhe esculturas em madeira, mas era demorado nas suas obras e ultimamente recusava fazer esculturas para os andores das muitas confrarias e irmandades que se iam apoderando de Sevilha, naqueles idos de 1660, em pleno reinado de Filipe IV. Tal como a maioria dos seus conterrâneos, Don Pepe era um homem ruído pela tristeza e pelo medo, sentia que vivia num mundo castigado pelo Altíssimo, talvez por causa dos pecados dos seus habitantes ou por aqueles que trouxeram o ouro das “Índias” e que fizera a riqueza da cidade até à famigerada primavera de 1649 com as inundações do rio, a fome e as ratazanas escuras que levaram a peste negra à cidade. Don Pepe nunca mais esqueceu os milhares de mortos na esplanada entre as muralhas e o “Hospital de la Sangre”. Não havia camas nem espaço no chão para os doentes da peste que se deixavam morrer ao relento, apenas tapados por uns cobertores e muitas vezes abandonados pelas famílias, temerosas do contágio, e que acabavam também por morrer em casa ou no caminhos dentro ou fora das muralhas da cidade.

        Onze anos não foram suficientes para esquecer, até porque a peste nunca abandonou de todo a capital do Guadalviquir, mas para Don Pepe as pessoas morriam sem aparente sofrimento, estavam geralmente tão enfraquecidas pela diarreia, vómitos, náuseas e febres que o último suspiro era exalado quase que sem um esgar de sofrimento e isso era, sem dúvida, uma morte que não interessava a um escultor, além de que Don Pepe não queria aproximar-se nem procurar doentes de peste negra com medo de ser igualmente apanhado pelo castigo do Senhor.

        Don Pepe queria esculpir uma morte sofrida semelhante à de Cristo e numa pessoa com as feições e corpo que no seu entender poderiam ser semelhantes, senão iguais, às de um novo Cristo como o da terra dos hebreus, mas sevilhano de origem ou de fora. Ver essa morte para a entalhar na madeira e dar-lhe a perenidade merecida num nova figura que representasse um novo Cristo. No entender de Don Pepe, o novo Cristo estaria aí com a marca do sofrimento por que todos estavam a passar há mais de uma década em Sevilha.

        Para isso, Don Pepe, sempre acompanhado pelo seu criado Estácio, procurava a cena da morte nas ruas de Sevilha ou antes, nos “afuera” das suas muralhas, onde um assassinato seria mais provável. Levava os seus papéis de esboço. Mas, isto nos intervalos das suas idas à casa da bela Marcela que recebia “visitas” sempre às quatro da tarde naquela rua de Sevilha que muitos chamavam  ”la cornudería”. Marcela tinha um marido legal já muito entrado de idade por causa das aparências e da moral que já não era a mesma do “Século do Ouro” em Sevilha em que tudo podia ser feito. Agora não, depois da grande desgraça, os sevilhanos puseram-se a rezar diariamente e ocupar-se com imensas procissões, já não só na Semana Santa ou na Quaresma, mas quase por todo o ano. Mas nada evitava a vontade da carne e o prazer obtido. Marcela provocava o “desenfreno erótico” como dizia Don Pepe que há meses ou anos andava a pintar o quadro da bela com um imenso decote e flamejantes jóias e que, obviamente, nunca mais acabava.

Pago sempre alguns ducados por umas pinceladas – dizia Don Pepe ao seu criado Estácio ou “sagaz Estácio” como lhe chamava quando estava de bom humor.

Quando Don Pepe se entretinha com as pinceladas no quadro da Marcela ou na dita, o seu sagaz criado tinha a incumbência de procurar locais da prática do crime. Geralmente passa a Sevilha murada pela “Puerta de la Carne” em cujo exterior havia um matadouro e mais atrás o habitual mercado de gado. Aí, muita gente negociava, entre cristãos velhos e novos, ciganos e alguns poucos indivíduos de outras origens.

        Um dia, Estácio ouviu uma conversa mais ou menos secreta sobre um cigano recentemente chegado a Sevilha, oriundo de terra desconhecida, que teria enganado um agricultor com a venda de umas mulas em más condições de saúde e que deveria ser apunhalado logo que aparecesse a fazer negócio.

        Don Pepe ordenou a Estácio que fosse  ao acampamento desse cigano. Queria ver-lhe a cara, saber se poderia ser o fácies de um Cristo.

        Não foi possível encontrá-lo porque Estácio não o tinha vista antes. Foi falar com um dos interlocutores da conversa e convenceu-o que tinha contas a ajustar com o cigano das mulas e que lhe indicasse qual o seu poiso ou acampamento. O gordo e velho negociante de mulas e arreios indicou-lhe o local eventual onde deveria estar o bom do cigano acampado e disse-lhes que era um indivíduo quase alto, magro com uma barba e bigode espessa e negra. A cara estreita a mostrar um certo desdém aliado a sofrimento. – Não é um indivíduo alegre e não sei porque enganou o meu compadre com aquelas mulas, se é que o enganou?

        Nessa altura, os andaluzes mostravam um certo apreço pelos ciganos que acabavam de chegar à Península e logo se converteram ao catolicismo, ou já o eram, na opinião de uns ou outros. Ostentavam grandes Cristos de madeira pendurados ao pescoço e vendiam-nos também, dizendo que vinham da Terra Santa e foram esculpidos na madeira das árvores que viram Cristo padecer na cruz. Lentamente iam surgindo uns desentendimentos por causa de enganos nos negócios e faltas de umas ou outras coisas. Não se tornaram sedentários, o que não tinha importância na época, o principal era o Cristo pendurado ao pescoço e a presença nas missas. Não eram, obviamente, judeus, nem podiam ser considerados cristãos novos, pois eventualmente já eram cristãos antes de chegarem à Andaluzia. Dizia-se que eram descendentes de uma das primeiras tribos convertidas ao cristianismo por um dos apóstolos que foi pregar na direcção do Oriente e sul da Galileia e que teria convertido etíopes e aquela gente na Índia de onde terá sido expulsa pelos sectários de Maomé, o que lhes granjeava uma certa consideração e respeito. Ao certo nada se sabia; não tinham livros nem sabiam ler ou escrever.

        Muito andaram os dois para descobrir o cigano que o arrieiro disse poder chamar-se Félix. Foram a vários acampamentos à procura de um Félix, dizendo-se que eram amigos e vinham por bem. Don Pepe chegou a dizer que queria fazer um desenho da sua cara e mostrou os seus dotes ao desenhar rapidamente uma cigana velha e desdentada. Geralmente olhavam com desconfiança e diziam não conhecer esse tal de Félix.

        Sem qualquer êxito e cansados voltaram a Sevilha para reentrar pela “Puerta de la Carne”.

        Passaram a ir diariamente ao mercado da carne, onde se transaccionava o gado vivo ou morto. Os dias passaram, sem que nada fosse visto de especial. Aquela cara de Cristo cigano não aparecia e os inimigos já falavam em ir procurá-lo nem que seja nas caves de Cavadonga.

        Um dia, pela manhã ainda cedo, viram a figura imponente de um cigano magro com uma barba muito negra e um cabelo espesso ligeiramente encaracolado e igualmente negro. Olhava com alguma desconfiança em seu torno e inclinava a cara para um lado ou para outro como se quisesse apanhar todos os sons produzidos à sua volta. Vestia uma camisa negra de balão nas mangas e terminada em algo de bordado e sem colarinho. A camisa fechava no pescoço com um cordel, mas estava bem aberta a mostrar uma parte do peito. As calças justas à moda da época e à cintura trazia um bem afiado punhal metido num coldre de cabedal. Também trazia uma pequena pistola de pederneira à cintura sem coldre.

        Don Pepe e o seu criado viram o cigano com a sua cabeça um pouco acima das restantes pessoas.

        - É ele, disse Don Pepe para o seu criado.

        - Não sei se é, mas juraria que deve ser e traz um par de mulas atrás, vem fazer o mesmo negócio. Será que o vendedor de arreios já o descobriu, Don Pepe?

        - O melhor é avisá-lo.

        - Acho que não devemos fazer isso, meu senhor, seria provocar o assassinato e Deus pode castigar-nos. Quanto muito deixemos que algo aconteça, se acontecer.

        - Tens razão meu bom Estácio. Isso até dá tempo para observar a cara e a figura do cigano e, entretanto, vou fazendo uns esboços dele.

        Ambos se aproximaram do cigano e repararam que vinha sozinho. – É valente, o homem, não é verdade Don Pepe? Sim, parece que sim, respondeu o patrão. E tem mesmo uma cara de Cristo. E se fosse o próprio Cristo que resolveu regressar à Terra nesta época de tanto sofrimento?

        - Pode ser, mas ele não diz nada, não anda a doutrinar nem a apontar um caminho da salvação que nos tire do martírio da morte pelas pestes e outras doenças. Porque morrem tantas crianças inocentes que ainda não tiveram tempo de pecar?

        - Don Pepe, eu não sou teólogo e não te posso dar qualquer resposta, mas reparei que o cigano diz muito com o seu olhar, a sua cara de sofrimento e o aparente desdém pelo sofrimento. Ele veio dizer-nos que o sofrimento e a morte não são de temer.

        - Tu estás a ver o mesmo que eu, Estácio, és inteligente. Ele olha em volta como se nada tivesse a temer. De algum modo fala com os olhos e a cara, impõe-se como um Cristo. Repara que as pessoas olham para ele com respeito e até reverência. Olha uma velha ali a fazer o sinal da cruz voltada para o nosso Cristo. Os seus inimigos ainda não deram por ele.

        Félix trazia umas mulas; mais uma vez mulas. Foi a um bebedouro para elas beberem água e ao palheiro onde adquiriu um pouco de palha para encher-lhes o estômago. O seu porte tinha algo de altivo, mas a cara misturava um ar de desdém associado ao seu contrário, uma certa humildade. Aquele Cristo desdenhava, obviamente, o mercado e mostrava alguma humildade perante o povo que por ali vagueava. A sua magreza alardeava um ar estóico e nada ganancioso.

        - É mesmo um Cristo, disse Don Pepe, que o verdadeiro me perdoe se não for verdade, mas aquela figura, aquele olhar, tudo nele é uma revelação divina. O pai mandou de novo o seu filho à Terra.

        - Ora, meu Senhor, Deus não mandaria o seu Filho vender mulas junto à “Puerta de La Carne”.

        - Não sei? O primeiro não nasceu numa estrebaria?

        - Sim, mas este vem armado de punhal e pistola e olhe, está a ser rodeado de homens de semblante agressivo.

        Aproximaram-se os dois e viram primeiro que duas jovens de vestidos negros e compridos, mas com aventais de corres garridas como que para atrair os demónios, ofereceram flores ao cigano com risos alegres, que as agradeceu beijando as flores, agitando-as na direcção das  donzelas.

        Os homens que rodearam o cigano pararam perante o acto das jovens. Aparentemente ficaram confundidos, já tinham enfiado uns capuzes negros na cabeça para não serem reconhecidos. Não se fazia aquilo naquela Sevilha severa e temerosa da morte e do pecado.

        - São elas, disse Don Pepe. A Verónica e a Madalena.

       - Não pode ser – respondeu Estácio – não podem ter ressuscitado?

        - Porque não? Se Jesus Cristo ressuscitou, porque razão Madalena, Verónica e até os apóstolos não podem regressar de novo à Terra para pôr um pouco de ordem nisto e salvar-nos sei lá de quê? De nós mesmos, das pestes, doenças diversas, fomes, guerras e tudo o mais que estamos a padecer diariamente.

        - Sabes, Estácio! Ele, o cigano, traz as mulas, mas não me parecem doentes, nem de pelo pintado, são absolutamente normais, nem muito novas nem velhas. Parecem ainda boas para o trabalho. Agora recordo que o homem dos arreios não me conseguiu explicar de que modo é que o cigano enganou os compradores com as mulas. Sim, qualquer pessoas mais ou menos entendida não se deixa enganar, os animais mexem-se, movimenta-se, vê-se-lhes a boca e podem ser apalpados e o pelo visto com cuidado. Não, eles querem matar o cigano por outra razão.

        - E qual será? – Perguntou Estácio.

       - Simplesmente, o homem é demasiado parecido com Cristo. Aqui, os vendilhões querem resolver o problema antes que apareçam discípulos ou apóstolos.

        - Será mesmo, senhor?

       - É! Não tenhas dúvidas. Todos os Cristos que venham à nossa Terra serão liquidados e a Igreja ainda  não descobriu este porque então iria directamente para as fogueiras da Santa Inquisição.  Desta vez são os vendilhões que o vão despachar.

        - Espantoso! Senhor!

        - Olha para o baixote que se aproxima do cigano. Tirou a espada e vai rachar o cigano de alto a baixo. Já levantou a espada, apontou-lhe à cabeça, ao lado não querem que ele se afaste. E desferiu o golpe. Oh! Graças a Deus, o Cristo cigano desviou-se num ápice e empunha agora o punhal. Já castigou o braço do baixote com uma punhalada. Bem feito.

        Enquanto D. Pepe começava a fazer uns esboços da cena no papel. Estácio observava que os circunstantes se afastavam um bocado e faziam uma roda em torno do cigano.

        - Vamos é aproximarmo-nos para ver melhor a cena. Eles vão matar o Cristo cigano.

            - Talvez não, Estácio. Repara que estão cheios de medo. O cigano maneja bem o punhal, mas não pode ter as costas bem protegidas, eles são muitos. Repara que ele sentiu que se aproximaram para o ferir nas costas e voltou-se de repente. Os assassinos afastaram-se. Parece um baile. Apesar de terem todos espadas e punhais, eles temem aquele punhal já ligeiramente ensanguentado.

            - O cigano ainda não pronunciou uma palavra, Don Pepe, apenas fala pelo olhar desdenhoso e estóico contra tantos cobardes. Não há o mais pequeno esgar de medo na sua cara. Que belíssima cara de Cristo. Sabe que vai morrer. Veio à Terra para isso mesmo. Bem! Como todos nós.

            - Sim, mas que seja o mais tarde possível.

            Os avanços e recuos dos homens em torno do cigano pareciam durar uma eternidade. Um magriço atirou-lhe um punhal, mas novamente o cigano desviou-se a tempo e a arma afiada foi raspar as pernas de um dos seus inimigos.

            - Olhe Don Pepe. Vêm aí uns vilões com cordas. Vão laçá-lo para o prender àquele poste e depois espetar-lhe os seus punhais. O cigano ainda não deu pelo perigo. Está demasiado ocupado em defender-se dos homens das espadas.

            Efectivamente, de repente um vaqueiro andaluz lançou um laço no cigano e puxou-o rapidamente para o poste. Ele tenta cortar a corda com o punhal, mas já estão a colocar mais cordas e laços, conseguindo imobilizar-lhe os braços. O cigano fica preso ao posto.

            Sem esperar muito tempo, o baixote da espada espeta-lhe um punhal bem fundo nas costas. Deve ter chegado ao coração. A cara do cigano perdeu força e cai para o lado, enquanto continua a olhar com desdém. Agora até faz uma espécie de sorriso.

            - Sabes o que significa aquele sorriso desdenhoso, meu caro Estácio?

            - Não, não sei, senhor.

           - Significa que Deus perdeu qualquer esperança nos homens. Estamos todos condenados à doença e às guerras para todo o sempre até ao fim do Mundo. Não temos salvação possível.

            Os assassinos do Cristo cigano afastaram-se rapidamente, enquanto Don Pepe fez um esboço da cara do cigano a exalar o seu último suspiro, sempre com aquele sorriso desdenhoso.

            Para justificar a morte do Cristo cigano, os seus assassinos começaram a propalar que os ciganos vieram para roubar e matar e, por isso, aquela magnifica figura ficou ali morto e amarrado a um poste até ser levado pela numerosa família tribal.

            - Estácio! Sempre que um Cristo morre, há um povo condenado. O do próprio Cristo. Depois dos hebreus são agora os ciganos a serem condenados e desprezados. Deus, o Criador, voltou-nos as costas. Deve ter pena de obra tão maldita, ou talvez nem nos tenha criado. Deixou simplesmente que tivéssemos aparecido sabe-se lá de onde? Sim! De alguma caverna escura e tenebrosa para espalhar o mal sobre a Terra.

            Don Pepe fez uns excelentes esboços que se traduziram depois numa notável obra de arte sacra para o andor mais famoso da Andaluzia de então. Todos o quiseram imitar, mas ninguém o conseguiu até hoje.

            - Repara Estácio! O olhar também mata. Ninguém quer ser visto daquela maneira. Com o seu olhar, o cigano dizia quem nós somos. O pior dos animais.

 

 

 

 

Texto de Dieter Dellinger

publicado por DD às 00:00
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