Hoje, pelo fim da tarde, realiza-se na Fundação Saramago uma sessão de leitura de textos de autores proibidos na China Comunista que endureceu recentemente a censura intelectual ao ponto de proibir cerca de 55 mil títulos chineses e estrangeiros.
O general Ho Chien é o censor máximo da China, a quem a direita portuguesa vendeu os principais ativos estratégicos de Portugal.
Ho controla as mais de 600 editoras que pertencem ao Estado Comunista por não haver editoras particulares. Os livros proibidos entram na República Popular da China via Hong Kong e Taiwan, onde são impressos em grande quantidade e só uns poucos são feitos em editores do Continente porque nem todos os editores viram algum mal na obra.
Saliente-se que a Internet é controlada, incluindo os blogs, mas aparecem livros proibidos constantemente em blogs para serem apagados e reaparecerem novamente.
Apesar de desconhecidos, a China possui escritores da maior craveira mundial que poderiam ter ganho numerosos prémios Nobel, o que não é nada de excecional dado tratar-se de uma nação com 1,3 mil milhões de habitantes, sendo mais de 80% letrada.
Entre os livros proibidos na China contam-se quase todos os livros infantis ocidentais a começar por "Alice no País das Maravilhas", cuja proibição se deve apenas ao facto de o general Ho não gostar de histórias em que animais falem. Harry Potter também é proibido porque tem muita fantasia, segundo o general.
Mas os mais perseguindos são os grandes mestres da literatura mundial de nacionalidade chinesa como Liao Yiwu que escreveu recentemente um livro tornado proibido sem qualquer razão com o título "A Bala e o Ópio" que relata com espírito crítico situações do passado. O livro está proibido para evitar que o escritor se torne conhecido na China, apesar de já não ser possível impedir que os seus livros que contam histórias passadas em todas as épocas da China sejam os mais lidos.
Segundo editores de Taiwan e Honk Kong, os principais leitores dos livros proibidos na China são os funcionários do Estado e, principalmente os membros do partido, incluindo dos serviços secretos.
Tal como aconteceu no período da Revolução Cultural foi de dentro do Partido Comunista Chinês que saiu a oposição a Mao Ze Dung e à sua política, a começar por Chu En Lai, o primeiro ministro, e Deng Xiao Ping que assumiu a direção do PCC e transformou a China.
Hoje, há uma onda semelhante que levou o presidente XI Jinping a endurecer a ditadura no plano intelectual.
É sabido que na China, o melhor presente que se pode dar a um alto funcionário do regime é um livro proibido, principalmente se contar algo sobre a revolta da Praça Tien A Men.
"Os Cisnes Selvagens" de Jung Chang é o livro mais lido na China e existe editado em português. Livro que li umas três vezes.
Consta no jornais clandestinos que nos últimos tempos abandonaram o PCC mais de 270 milhões de militantes e que o presidente disse que a saída resultou de falecimento normal, o que não é tido por verdadeiro por parte de muito pessoal do partido.
Os autores proibidos, que vão ser lidos numa ínfima parte hoje, fazem, sem dúvida, parte do "prefácio" da queda do regime ditatorial monopartidário contraditoriamente comunista e capitalista.
O funcionalismo público-partidário odeia cada vez mais o chamado "comunismo Ferrari" isto é, a ditadura do PCC com uma oligarquia imensamente rica que anda de Ferrari e outras viaturas de grande luxo.
Os intelectuais são sempre a "vanguarda" de todas as revoluções e mudanças de regime, geralmente para proveito de gananciosos corruptos e pessoas práticas na arte de condenar, matar, prender, proibir e tirar proveito material para si próprio de qualquer tipo de poder.
O intelectual acaba sempre por ficar de fora porque esses atributos não fazem parte de quem pensa, mas é a mola da mudança e é quem num dado momento influencia tudo o que acontece, daí o terror que os detentores dos poderes, sejam eles quais forem, têm de quem escreve e comunica.
Foto: O escritor Liao Yiwu, o autor de "A Bala e o Ópio" que poderia ter ganho há muito o Prémio Nobel da Literatura, mas não lhe foi atribuido para evitar que seja assassinado porque ainda vive na China e que os seus textos sejam ainda mais proibidos, sendo que muitos deles nem são contrários ao regime, mas histórias muito bem contadas respeitantes a várias épocas da China.